3 de jun. de 2009

Tecnomoda



Atender uma ligação na jaqueta. Checar e-mails nos óculos escuros. Controlar os níveis de colesterol e glicose pela cor da camisa. Ficção científica? Não. Ciência atual mesmo. Estes são apenas alguns poucos exemplos da aliança entre a moda e a tecnologia.
Esta parceria é muito antiga. Alguns dos primeiros artefatos produzidos pelo Homem serviam à moda, ou pelo menos ao seu embrião, na forma de confecção de roupas funcionais que protegessem nossos antepassados das intempéries.
A própria computação moderna tem suas origens nos avanços tecnológicos desenvolvidos para a indústria têxtil. O tear mecânico automático de Jacquard com seu sistema de cartões perfurados foi o primeiro passo para as primeiras máquinas de calcular, ainda mecânicas, das quais evoluíram as idéias das máquinas universais de cálculo, as bisavós do seu notebook.

Hoje, com a miniaturização, ou melhor, com a “nanificação” promovida pela nanotecnologia e sua escala quase atômica, promove-se um novo estreitamento entre moda e tecnologia, uma simbiose que nunca deixou de existir, mas que se aprofunda.
A moda sempre promoveu o desenvolvimento da tecnologia, instigando os cientistas a ultrapassar limites. Agora, a tecnologia promove a volta da roupa funcional - não mais casacos de pele que protegem do frio, mas roupas que levam embutidas nossas novas necessidades: comunicação, saúde, entretenimento, informação e educação.
Assim, a jaqueta que tem embutido um sistema de telefonia celular conecta seu usuário de forma mais orgânica e livre - e com estilo. É o que chamamos de wearable computing, algo como “computação de vestir”. Mas ela não se limita a roupas. Óculos com projetores holográficos tridimensionais permitem que durante uma caminhada (ou aquela reunião chata) você posa checar seus e-mails ou navegar pela web com simples movimentos da cabeça ou comandos vocais.
Para aqueles que precisam de atenção especial por uma doença, diabetes, por exemplo, podem utilizar uma camiseta que indica pela mudança da cor do tecido ou de uma estampa o nível de glicose no organismo, medido pelas microgotículas de suor. Se o evento pede algo mais clássico, a mulher pode utilizar um colar com uma pedra que tenha a mesma função. Tudo bem chique e discreto.
Na linha de entretenimento, há duas semanas comprei uma camiseta com uma estampa de um equalizador de som. Ao “ligarmos” a camiseta, os sons do ambiente são captados e representados no equalizador por luzes coloridas. Inútil, mas muito divertido!
Todos esses exemplos já existem hoje, e já há algum tempo. Quase todos comercialmente. As pesquisas sendo feitas nesse momento envolvem conceitos mais avançados, como a utilização de nano-tubos de carbono para a criação de micro tecidos ultra-resistentes (olha o exército contribuindo - mais uma vez - com a moda!), ou a utilização de materiais com memória, que não deformam (esses estão quase no mercado já), ou ainda tecidos com “nano-motores” que auto-ajustam a roupa moldando-se ao corpo de nadadores para diminuir a turbulência por atrito e assim melhorar seu desempenho em competições. O céu não é o limite. É apenas o começo.
Beijo-me-liga, te atendo na minha jaqueta...
P.S.: Já estão no forno mais duas discussões: A Moda na Tecnologia (sim, os geeks também têm estilo!) e A Moda de Tecnologia.


*Marcos R. Geromini é formado em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo, onde desenvolveu projetos aliando Design, Interação Usuário-Computador e Inteligência Artificial. Atualmente trabalha com Sistemas de Missão Crítica, Criptografia e Arquitetura de Sistemas em uma empresa do setor financeiro. Inspirou-se nos sambas-enredo do Carnaval para a criação do título do artigo.


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2 comentários:

Carla Lima disse...

Acredito que a moda, hoje, é reconhecida por não respeitar obstáculos nem sistemas de valores. Ela tem o poder mágico de nutrir-se de antimodas, tornando-as moda. A própria natureza da moda exige que seja seguida numa determinada época, por uma parte de determinado grupo, e a grande maioria adotando-a apenas esporadicamente. Assim que um exemplo é universalmente adotado, já não se fala mais em moda. À medida que a moda se difunde, caminha gradualmente para o seu fim.

Carla Lima disse...

A globalização trouxe para a sociedade a insegurança. Todos têm o mesmo medo, pois tudo aconteceu muito rápido .A Internet , sem dúvida têm mudado o comportamento das pessoas. Vivemos a quebra do limite entre o público e o privado.

A condição pós-moderna também nos faz confundir o virtual com o real!Não é à toa que a mídia está em crise com a explosão de blogs, jornais comunitários e outros mais, difíceis de controle, acesso irrestrito (de leitura e de idéias) e com crescimento extraordinárioOutra coisa,a insegurança que vivemos nas grandes cidades, gerada por violência e diferenças sociais, faz-nos prisioneiros, tentando tornar as nossas casas o refúgio, a segurança. Daí a valorização da decoração de interiores, e do crescimento do setor chamado moda-lar. Mas nem no espaço doméstico temos a segurança pretendida. Vivemos um processo de mudança intenso, em que a cada instante nos chega uma ameaça, muitas das quais nunca pensadas antes como possíveis ameaças.

Os limites deixam de ser geográficos. Por essa razão não vivemos mais a ditadura da moda: a imposição da cor ou da forma para a próxima estação. Ao contrário disso, assistimos ao lançamento de coleções das mais diversas inspirações ,apresentando cores e não- cores,utilizando brilhos e foscos, e materiais naturais e sintéticos, rústicos e tecnológicos.

Diante de tudo isso vem a pergunta:

O que estará na moda na próxima estação? Tudo e nada. Depende do ritmo de cada um, de suas inquietações, do seu estilo de vida, dos seus valores, da sua identificação com a interpretação do estilista, o conceito da marca ou a sua própria interpretação para o momento no qual está inserido.


Carla Lima